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PLURAL: os textos de Marcio Felipe Medeiros e Rogério Koff

Novo Ensino Médio
Marcio Felipe Medeiros
Sociólogo e professor universitário

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O novo Ensino Médio deve chegar em meados de 2022, com profundas mudanças na organização de todo o processo de ensino e como o entendemos em sentido amplo. O argumento central da alteração é que existe uma grande evasão escolar, principalmente em escolas públicas, e isso se deve à baixa correlação entre conteúdos teóricos e a prática mercadológica. Em suma, a escola não está preparando as pessoas para ingressar no mercado de trabalho e esse seria o motivo da evasão escolar.

COMPREENSÃO CONTEXTUAL

Uma crítica inicial, e deveras importante, está relacionada ao argumento apresentado para a implementação do novo Ensino Médio, me parece carecer de uma análise contextual mais apurada. Sem dúvidas, um ensino mais amplo e conectado com a vida prática das pessoas o torna mais atrativo, entretanto, creditar a essa relação à evasão escolar me parece um erro. Quando pensamos em evasão escolar - e que neste momento estamos vivenciando também um surto - existe uma correlação sim com a falta de estímulo a permanecer na escola, mas existem questões materiais que circundam a evasão. Muitos jovens abandonam a escola para complementar a renda de suas famílias e/ou não tem ambições de seguir uma carreira em algum curso superior. Sair da escola parece ser uma boa ideia, pois a mesma não garante sustento material. Portanto, o problema da evasão escolar não poderia ser creditado com tanta ênfase à questão da organização dos conteúdos escolares, mas sim, deveria ser olhado de forma a abranger o contexto sócio-histórico no qual estamos inseridos. Parece uma redução muito simplista acreditar que mudando o Ensino Médio vamos reduzir a evasão escolar sem a criação de políticas complementares de geração de renda.

PROBLEMAS TERMINOLÓGICOS

Dentro do novo programa de Ensino Médio, várias palavras, bastante bonitas, são ditas. Promover a interdisciplinaridade, integração do aluno, desenvolvimento emocional dos alunos, etc. O que me parece estranho é que, analisando vários materiais relativos ao novo Ensino Médio, tanto os produzidos pelo governo federal quanto pelo governo estadual, em nenhum momento fica claro o que os mesmos significam, tampouco, como serão operacionalizados. Quando analisamos os materiais didáticos que, em tese, deveriam desenvolver essas "competências", a situação fica mais vaga ainda. Parece-me que estamos adentrando em um novo momento para as escolas, nas quais transparência e clareza do que devemos alcançar e principalmente, orientação governamental sobre como organizar o novo ensino é praticamente inexistente. A consequência que se avizinha é um desastre profundo para a educação.

Reagan e Thatcher
Rogério Koff
Professor universitário

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Há cerca de duas semanas, publiquei minhas considerações sobre o processo eleitoral para escolha do novo reitor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Mostrei aos leitores que o procedimento iniciado no dia 7 de maio, com a constituição daquilo que muitos chamam de "chapa única" com três nomes era absolutamente ilegal. A universidade optou por realizar uma consulta, rebatizada como "pesquisa de opinião", violando as regras que determinam o peso de 70 por cento da votação para os professores. Ao fazer uma consulta com voto paritário e constituir uma lista tríplice antes da reunião dos três conselhos universitários, a judicialização do processo era praticamente inevitável. Eu mesmo alertei para isso.

Eis que o advogado e colunista do Diário de Santa Maria Rony Pillar Cavalli ingressou nesta semana com uma Ação Popular, pedindo a nulidade da resolução e a suspensão do processo eleitoral na UFSM. Com base jurídica inatacável, o doutor Cavalli demonstrou a ilegalidade da proposta de consulta à comunidade. É bastante provável que a liminar seja acatada, ou então que o advogado recorra de uma decisão contrária da justiça. A pesquisa de opinião estava originalmente marcada para o próximo dia 24 de junho e na mesma data deveria ser divulgado o resultado, tendo em vista que apenas uma lista com três nomes se apresentou. Resta agora aos três conselhos superiores da instituição a condução do processo sucessório. Acompanhemos a situação.

RELAÇÃO DIFÍCIL

Como é de rotina em meu artigo semanal para o Diário, faço a indicação de um livro a meus leitores. A obra de hoje é "Reagan e Thatcher: uma relação difícil", do historiador norte-americano Richard Aldous. Em um texto cativante, Aldous foge da obviedade de escrever duas biografias em conjunto. Ao contrário, foca a relação entre a primeira-ministra britânica conservadora e o presidente republicano dos Estados Unidos a partir do final dos anos 1970 e durante os anos 1980. Apesar de apresentar pontos de divergência entre os dois maiores líderes mundiais da época, Aldous enfatiza os laços de amizade entre os dois. Ronald Reagan e Margaret Thatcher fizeram de suas políticas externas uma referência para o mundo. 

Através da leitura, podemos revisitar fatos como o atentado contra a vida de Reagan em 1981 e a Guerra das Malvinas, quando Thatcher foi desaconselhada pelo presidente norte-americano a intervir no conflito. Não é exagero afirmar que ambos formaram aquilo que se chamou de "Aliança Atlântica" e desempenharam significativo papel na derrocada dos regimes comunistas do Leste Europeu e na Queda do Muro de Berlim, abrindo caminho para o colapso do comunismo na então União Soviética no início dos anos 1990. 

O autor aproveita inúmeras biografias anteriormente escritas, além dos diários do próprio Reagan e papéis dos arquivos pessoais de Thatcher, que hoje estão amplamente disponíveis a pesquisadores do mundo inteiro. E conclui de forma divertida com uma citação de "Maggie", como era tratada por Reagan quando este se encontrava a sós com seus assessores: "Deu tudo certo, até porque ele tinha mais medo de mim do que eu dele." Recomendo com ênfase este livro.

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